quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Capítulo 14 (Último Capítulo)


O dia tinha sido perfeito, tive um momento em família com Jonathan e Demi, brincamos, comemos, conversamos. Havia sido uma experiência boa e natural. Por alguns momentos ficava claro os 14 anos de distancia, ainda tínhamos alguns problemas para nos conectar, ainda estávamos descobrindo o que atraia uns aos outros, o que cada um gostava e o que cada um não gostava. Descobri, por exemplo, que assim como eu, Jonathan não gosta de lentilhas, nem de tomate (a não ser o molho de tomate na pizza), e assim como Demetria, Jonathan ama misturar doce com salgado e cebola, duas coisas que eu nunca fui muito fã, apesar de comer ocasionalmente.
_ Jonathan disse que se divertiu com você e com Demi hoje mais cedo. – Nicholas diz assim que chega em casa, vejo pelo seu olhar o quanto ele está cansado, mas também vejo que ele quer conversar de verdade.
_ Sim, foi muito bom, eu não pensei que isso iria acontecer enquanto eu estivesse aqui. – admito.
_ Você realmente vai embora? – ele pergunta.
_ Eu não sei. – respondo e olho para os lados para ver se estamos realmente sozinhos. Estamos. _ Eu não quero ir, a Demi me ama e...
_ E...?
_ O Jonathan me chamou de pai. – digo e Nicholas ri para mim. _ E isso...
_ Te assusta. – ele conclui quando viu que eu não conseguia finalizar a frase.
_ Muito. – assumo. _ Isso é bobo, eu sei, era tudo o que eu mais queria, mas agora eu estou apavorado.
_ Eu sei como você se sente. – ele se solidariza. _ Quando a Demi disse que ela estava gravida eu tinha acabado de te ver, todo entubado, lá, deitado naquela cama, possivelmente por minha culpa... Cara, eu nunca senti tanto desespero.
_ Como você superou isso?
_ Porque eu vi que era a minha única opção. Eu tinha que ajudar a Demi e se necessário eu teria que ser um exemplo para aquela criança.
_ E você é.
_ Eu tento. – ele diz, tento não se mostrar muito. _ Eu cometi erros de lá para cá, fui imprudente, cabeça quente, como alguns podem dizer, tanto eu quanto Demi fizemos coisas na hora do aperto, corremos riscos, no fim tudo deu certo, mas eu não sei se repetiria tudo, caso eu tivesse a oportunidade de voltar atrás. Eu gosto da minha vida como esta hoje, se nada disse tivesse acontecido eu não teria amadurecido, nem mesmo teria descoberto minha verdadeira vocação. Mas eu também sinto falta do antigo eu, de acampar, ter energia e tempo para escalar montanhas, sinto falta de não temer pular de paraquedas, pois se algo der errado eu tenho muito a perder. Eu sei que o antigo Nick não voltará, e isso pode parecer triste, mas quando eu chego em casa eu percebo que eu posso ser feliz e muito feliz com o que eu tenho aqui, uma grande amiga e fiel escudeira como Demi, um meio filho. – rimos com a forma que ele fala. _ um sobrinho que é um filho maravilhoso, as vezes um pouco rebelde, mas bom, que sabe a hora de parar, que sabe respeitar, que sabe perdoar.
_ Você o ama, não é?
_ Sim. – Nicholas responde sem pestanejar. _ e por ama-lo, que eu te digo, Joseph, você vai sentir muita falta da nossa mãe, não há um dia que eu não sinta falta dela, mesmo após de tudo, mesmo após toda a humilhação, todas as brigas, eu ainda sinto falta dela, e você vai sentir Joe, mas fique, vale a pena, viva o amor que Demi tem para te dar, seja o pai de Jonathan, eu sei que 14 anos é muito, foi uma grande parte da vida deles, da minha vida nem se fala, mas, ainda dá tempo de recuperar.
_ Você acha que mamãe nunca voltará? – pergunto. _A ser como antes?
_ Quando nosso pai morreu e ela pediu a guarda de Jonathan, eu pensei que ela tinha mudado, eu sei que não foi isso, que no fim ela só queria descobrir um contato para poder nos infernizar mais um pouco, mas eu gosto de pensar que no momento em que ela pegou nosso telefone, que ela pensou um pouco, pensou em pedir perdão, pensou em nos pedir para voltar, pensou que sentia nossa falta, que queria sua família de volta, eu gosto de pensar também que com a sua volta que ela vai mudar, que você vai abrir a “porta” do coração da nossa mãe e que ela vai voltar a ser quem era, mas... Eu sou otimista. A Demi não pensa o mesmo que eu. Talvez porque para ela tenha sido pior, ou talvez porque ela não seja otimista. Ou no final eu seja apenas um bobo.
_ Eu quero acreditar que nossa mãe pode mudar. – eu digo. _ Eu quero que ela mude.
_ Você vai acabar voltando, não vai?
_ Eu queria que ela visse meu lado. – digo. _ Mas temo que Demi esteja certa, que se eu for eu não seja mais capaz de voltar. – digo.
_ Isso depende do quão convencido você está de que é você que está do lado certo. – Nick diz.
_ Como assim?
_ Você enganou nossa mãe para chegar aqui porque estava convencido que este era o certo a se fazer, se você voltar para lá é porque você crê que é o certo a se fazer e se você for e conseguir voltar, de duas uma: Ou você a convenceu ou ela não te corrompeu.
_ Eu tenho certeza do que quero. Eu quero minha família, minha família com você, com Demi, com Jonathan e com nossa mãe. – digo.
_ Então vá. – ele diz. _ Eu sei que há pouco lhe pedi para ficar, mas se é isso que você quer e se você acredita que pode fazer isso, vá. Eu te apoiarei no que for preciso.

Passamos uma noite calma, jantamos todos juntos, conversamos um pouco mais e assim pude conhecer ainda mais Jonathan, Nicholas estava tentando me preencher com o máximo de histórias que eles viveram juntos, como forma de me ajudar conectar mais ainda com meu filho.
Após o jantar Nicholas foi dormir, Jonathan ficou um pouco mais comigo e com Demi, conversamos um pouco mais, porém depois de um tempo ele acabou se distraindo em seu telefone e não demorou muito para ele ir para seu quarto jogar.
Demi e eu fomos ao quarto dela.
Já era tarde, mas eu não tinha sono, olhei para o lado e vi que, mesmo com as luzes já apagadas, ela também ainda estava acordada.
_ Amanhã é o dia. – eu digo e ela olha para mim.
_ O dia? – ela pergunta confusa.
_ Que eu vou embora.
_ O que? – ela, se levanta para sentar-se na cama e liga a luz do abajur a seu lado. _ Você vai embora?
_ Eu estava pensando...
_ Sabe, eu finalmente pensei que seriamos felizes. – ela me interrompe.
_ E seremos, mas...
_ Mas nada Joseph, você quer ir? Você quer abandonar seu filho? Você quer me abandonar? Então vá.
_ Demi, não é assim. – me altero um pouco. _ Eu vou, mas eu volto.
_ Você não sabe.
_ Eu fugi dela uma vez, eu faço isso novamente se for necessário.
_ Não, se você voltar ela vai estar mais atenta, você vai achar que está fugindo novamente, mas vai estar apenas trazendo ela também.
_ Eu só a trarei se ela prometer que vai se redimir.
_ Prometer é fácil Joseph, eu posso te prometer o que eu bem entender. Agora cumprir? Cumprir é algo totalmente diferente.
_ Demi, eu não estou te abandonando. Eu juro.
_ Você não sabe.
_ Você tampouco.
_ Não, eu sei sim, eu sei do que sua mãe é capaz, você que não sabe.
_ Eu também sei que minha mãe não é um monstro. – digo e Demi para por alguns segundos.
_ Não foi isso que eu quis dizer. – ela se mostra arrependida.
_ Eu entendi o que você quis dizer e sim, eu sei que minha mãe fez da sua vida um inferno, mas, ela nem sempre foi um monstro e você sabe disso, você também conheceu o melhor dela.
_ Eu conheci, e realmente achei que esse melhor sobressairia, mas isso não aconteceu, assim como eu não sou a mesma Demetria de antes, a sua mãe não é a mesma de antes, e talvez ela nem mesmo saiba voltar a ser a mesma de antes.
_ Então você quer que eu a abandone? Que eu escolha?
_ Sim. – ela hesita, mas responde.
_ Ela me pediu o mesmo.
_ Não me compare com ela.
_ Qual a diferença?
_ Eu não a machuquei do jeito que ela me machucou.
_ Eu sei, mas ela não sabe disso.
_ Eu não acredito que você está falando isso.
_ Demi, eu quero uma família completa.
_ Você tem.
_ Eu preciso da minha mãe nela.
_ Você que sabe Joseph, é você que esta escolhendo. – ela diz, se vira para o lado, deitando novamente.
_ Demi... – ela desliga o abajur.
_ Boa noite Joseph.

Quando acordamos vejo que Demi ainda não está bem comigo.
Ela passa o café-da-manhã inteiro em silêncio. Jonathan percebe e pergunta e quem entrega a resposta sou eu.
_ Eu vou embora hoje. – digo.
_ Mas por quê? – ele pergunta.
_ Eu preciso conversar com minha mãe...
_ Mas ela não gosta da gente. – ele diz.
_ Porque ela não conhece vocês... E eu vou fazê-la conhecer vocês melhor e gostar de vocês.
_ Eu não quero isso.
_ Jonathan. – quem o reprime é Nick.
_ Ela já tentou nos separar uma vez. – Jonathan se dirige a Nicholas.
_ Isso não vai acontecer novamente. – quem diz sou eu.
_ Isso não é justo. – Jonathan para de comer e cruza os braços. _ Mãe, fale alguma coisa. – ele pede. Demetria olha para ele com um olhar de dor e depois olha para mim e sinto que ela me julga.
_ Eu não posso prendê-lo aqui. – ela diz. _ Ele tomou a decisão dele.
_ Mas...
_ Jonathan, não adianta. – ela grita. _ Agora vê se come e pare de insistir. – o garoto não obedece.
_ Não estou com fome. – sai da mesa e volta a seu quarto.
_ Isso foi exagero, Demi. – Nicholas diz.
_ Quer saber? Eu também perdi a fome. – ela diz, se levanta e também vai a seu quarto.
_ Isso não vai dar certo. – eu digo.
_ Eu converso com eles depois. – Nicholas diz. _ Só prometa que vai fazer sua parte. – ele diz. _ Você vai voltar.
_ Eu vou voltar.

Minha despedida não foi nada como eu pensei que seria, ganhei um abraço rápido de Jonathan e de Demi apenas um adeus, nada mais.
Nicholas me leva até a rodoviária e eu uso parte do dinheiro de Jacob me deu para comprar a passagem de volta, fico feliz ao ver que voltarei com a maior parte sem gastar.
_ Não fique assim, tudo vai dar certo no final.
_ Eles me odeiam agora, não é?
_ Não, eles só estão chateados. Se te consola, saiba que ambos sabem fazer um drama como ninguém. – riu.
_ Sabe. Vá em paz, faça o que você precisa fazer, e volte, vamos estar de braços abertos.
Abraço meu irmão e entro no ônibus.
O ônibus partirá em breve, então me acomodo em minha poltrona.
Percebo que o telefone está vibrando e quando vejo o número me surpreendo. É minha mãe.
_ Oi. – digo.
_ Oi. – sua voz é calma.
_ Aconteceu alguma coisa? – pergunto.
_ Talvez.
_ E o que foi?
_ Eu.
_ O que aconteceu com você? – pergunto, talvez sua voz não estivesse calma, mas sim fraca e ela estivesse doente.
_ Nada de grave. – ela me acalma. _ Demi me ligou. – ela diz.
_ O que?
_ Sim, eu sei, eu também não esperava por isso. – ela diz. _ Ela disse que você esta voltando.
_ Sim. – digo. _ Eu prometi que voltaria.
_ Você disse que queria se dar bem com seu filho. – ela me relembra.
_ E quero. – vejo que o motorista fecha a porta do ônibus, estamos prestes a partir. _ Ele é um ótimo menino, e eu quero que você o conheça.
_ Eu sei. Ela disse o porque de você está voltando.
_ Eu pretendo voltar para cá um dia. – eu digo.
_ Ela me deu o endereço dela. – minha mãe disse.
_ Como assim?
_ Fazer as pazes lhe fará feliz? – ela pergunta.
_ É tudo o que eu mais quero.
_ Eu ainda tenho minha convicção, mas eu te amo, eu quero ver você feliz.
_ Mãe, eu estou entendendo direito? – sinto meu coração disparar.
_ Sim, ela disse estar disposta a me perdoar e eu disse o mesmo a ela.
_ Então...
_ Fique com seu filho, Joseph, eu ainda não estou preparada para vê-los, mas... Eu pretendo ir aí, eu tentarei ser uma boa avó, assim como seu pai foi um bom avô. – ela diz.
_ Mãe, eu te amo. Eu te amo muito.
_ Eu também te amo. Eu te amo muito, meu filho.
Assim que desligo o telefone me levanto e vou até a frente, onde o motorista fica.
_ Abre a porta. – peço.
_ Que? – ele pergunta confuso.
_ Eu não vou mais viajar, abre a porta.
_ Senhor, eu não posso.
_ Abra a porta, por favor, abra a porta, eu preciso sair. – começo a gritar o que o assusta.
Recebo alguns olhares de reprovação dos outros passageiros, mas ignoro.
O motorista abre a porta e eu saio.
Já não estamos na rodoviária, mas estamos perto, ainda posso ver o prédio.
Volto para lá.
Vou até a passarela em que o ônibus em que entrei estava estacionado, na esperança de ver  Nicholas, mas ele já não está mais lá.
Parto então para a entrada.
Quando estou saindo vejo alguém que me parece família, ela está se afastando, indo embora.
_ Demi! – eu grito. Ela olha. Não tinha visto, mas Jonathan também estava com ela, um pouco mais a frente.
Demi volta correndo até a mim, Jonathan também corre a minha direção.
Quando ela chega nos beijamos.
_ Eca. – Jonathan diz, e nos separamos, eu o abraço.
_ Você vai ficar? – ela pergunta.
_ Sim. Seremos uma família. – eu digo.
_ Sempre. – ela diz.
_ Sempre. – eu respondo.

FIM

Oi gente, sei que estou postando atrasado, mas eu não consegui terminar este capítulo a tempo, eu queria colocar muita coisa e tive que me reprogramar para não ficar muita coisa de uma vez só, mas não ficar um fim sem sentido nenhum. 
Queria agradecer a todos que acompanharam esta história, foi pequena, mas que gostei muito de fazer.
Espero que tenha gostado do final e em breve chegarei com novidades.

Muito obrigada por tudo

Nenhum comentário:

Postar um comentário